V – Conclusão – O Livro dos Espíritos

Os que dizem que as crenças espíritas ameaçam invadir o mundo proclamam a sua força, porque uma ideia sem fundamento e destituída de lógica não poderia tornar-se universal. Se, pois, o Espiritismo se implanta por toda parte, se recruta adeptos sobretudo nas classes esclarecidas, como todos o reconhecem, é que tem um fundo de verdade. Contra essa tendência serão inúteis todos os esforços dos seus detratores e o que prova é que o próprio ridículo de que o procuraram cobrir, longe de deter o seu impulso, parece lhe haver dado novo rigor. Esse resultado justifica plenamente o que muitas vezes os Espíritos têm dito: “Não vos inquieteis com a oposição, tudo o que fizerem contra vós se tornará em vosso favor e os vossos maiores adversários servirão à vossa causa sem o querer. Contra a vontade de Deus a má vontade dos homens não poderá prevalecer.”

Com o Espiritismo a Humanidade deve entrar numa fase nova, a do progresso moral, que lhe é consequência inevitável. Deixai, pois, de vos admirar da rapidez com que se propagam as ideias espíritas. A causa disso está na satisfação que elas proporcionam a todos os que as aprofundam e que nelas veem alguma coisa mais do que um fútil passatempo. Ora, como o homem quer a sua felicidade acima de tudo, não é de admirar que se interesse por uma ideia que o torna feliz.

O desenvolvimento dessas ideias apresenta três períodos distintos: o primeiro é o da curiosidade provocada pela estranheza dos fenômenos; o segundo é o do raciocínio e da filosofia; o terceiro, o da aplicação e das consequências. O período da curiosidade já passou: a curiosidade não dura mais que um certo tempo e uma vez satisfeita muda de objeto; mas o mesmo não acontece com o que se refere ao pensamento sério e ao raciocínio. O segundo período já começou e o terceiro o seguirá inevitavelmente. O Espiritismo progrediu sobretudo depois que foi melhor compreendido na sua essência, depois que lhe perceberam o alcance, porque ele toca nas fibras mais sensíveis do homem: as da sua felicidade, mesmo neste mundo. Nisso está a causa da sua propagação, o segredo da força que o faz triunfar. Ele torna felizes os que o compreendem, enquanto a sua influência não se estende sobre as massas. Mesmo aquele que não tenha testemunhado nenhum fenômeno material de manifestações dirá: Além dos fenômenos há uma filosofia; essa filosofia me explica o que nenhuma outra havia explicado; nela encontro, pelo simples raciocínio, uma demonstração racional dos problemas que interessam no mais alto grau ao meu futuro. Ela me proporciona a calma, a segurança, a confiança, me livra do tormento da incerteza, e ao lado disso a questão dos fatos materiais se torna secundária. Vós todos, que o atacais, quereis um meio de o combater com sucesso? Ei-lo aqui. Substitui-o por alguma coisa melhor, encontrai uma solução mais filosófica para todas as questões que ele resolve, dai ao homem outra certeza que o torne mais feliz, mas compreendei bem o alcance dessa palavra certeza, porque o homem não aceita como certo senão o que lhe parece lógico. Não vos contenteis em dizer que isso não é assim, pois é muito fácil negar. Provai, não por uma negação, mas através de fatos que isso não é, jamais foi e nem pode ser. E se isso não é, dizei sobretudo o que devia ser em seu lugar. Provai, por fim, que as consequências do Espiritismo não tornaram os homens melhores, e portanto mais felizes, pela prática da mais pura moral evangélica, moral que muito se louva mas pouco se pratica. Quando tiverdes feito isso, tereis o direito de o atacar. O Espiritismo é forte porque se apoia nas próprias bases da religião: Deus, a alma, as penas e recompensas futuras, e porque sobretudo mostra essas penas e recompensas como consequências naturais da vida terrena, oferecendo um quadro do futuro em que nada pode ser contestado pela mais exigente razão. Vós, cuja doutrina consiste inteiramente na negação do futuro, que compensação ofereceis para os sofrimentos deste mundo? Vós vos apoiais na incredulidade, e ele se apoia na confiança em Deus. Enquanto ele convida os homens à felicidade, à esperança, à verdadeira fraternidade, vós lhes ofereceis o nada por perspectiva e o egoísmo por consolação. Ele explica tudo, vós nada explicais. Ele prova pelos fatos e vós nada provais. Como quereis que o homem hesite entre essas duas doutrinas?

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