114. Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que procuram melhorar-se?
— Os Espíritos mesmos se melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma superior.
115. Uns Espíritos foram criados bons e outros maus?
— Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento. Deu a cada um deles uma missão, com o fim de esclarecê-los e progressivamente conduzir a perfeição, pelo conhecimento da verdade e para aproximá-los Dele. A felicidade eterna e sem perturbações, eles a encontrarão nessa perfeição. Os Espíritos adquirem o conhecimento passando pelas provas que Deus lhes impõe. Uns aceitam essas provas com submissão e chegam mais prontamente ao seu destino; outros não conseguem sofrê-las sem lamentação, e assim permanecem, por sua culpa, distanciados da perfeição e da felicidade prometida.
115-a. Segundo isto, os Espíritos, na sua origem, se assemelhariam a crianças, ignorantes e sem experiência, mas adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, ao percorrer as diferentes fases da vida?
— Sim, a comparação é justa: a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita; seu menor ou maior aproveitamento depende da sua docilidade. Mas a vida do homem tem fim, enquanto a dos Espíritos se estende ao infinito.
116. Há Espíritos que ficarão perpetuamente nas classes inferiores?
— Não; todos se tornarão perfeitos. Eles mudam, embora devagar, porque, como já dissemos uma vez, um pai justo e misericordioso não pode banir eternamente os seus filhos. Querias que Deus, tão grande, tão justo e tão bom, fosse pior que vós mesmos?
117. Depende dos Espíritos apressar o seu avanço para a perfeição?
— Certamente. Eles chegam mais ou menos rapidamente, segundo o seu desejo e a sua submissão à vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui mais depressa que uma rebelde?
118. Os Espíritos podem degenerar?
— Não. A medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito conclui uma prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde. Pode permanecer estacionado, mas não retrogradar.
119. Deus pode livrar os Espíritos das provas que devem sofrer para chegar a primeira ordem?
— Se eles tivessem sido criados perfeitos, não teriam merecimento para gozar dos benefícios dessa perfeição. Onde estaria o mérito, sem a luta? De outro lado, a desigualdade existente entre eles é necessária a sua personalidade, e a missão que lhes cabe, nos diferentes graus, está nos desígnios da Providência, com vistas a harmonia do Universo.
Comentário de Kardec: Como, na vida social, todos os homens podem chegar aos primeiros postos, também poderíamos perguntar por que motivo o soberano de um país não faz, de cada um dos seus soldados um general; por que todos os empregados subalternos não são superiores; por que todos os alunos não são professores. Ora, entre a vida social e a espiritual existe ainda a diferença de que a primeira é limitada e nem sempre permite a escalada de todos os seus degraus, enquanto a segunda é indefinida e deixa a cada um a possibilidade de se elevar ao posto supremo.
120. Todos os Espíritos passam pela fieira do mal, para chegar ao bem?
— Não pela fieira do mal, mas pela da ignorância.
121. Por que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem, e outros o do mal?
— Não tem eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, ou seja, tão aptos para o bem quanto para o mal; os que são maus, assim se tornaram por sua vontade.
122. Como podem os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm a consciência de si mesmos, ter a liberdade de escolher entre o bem e o mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um lado que para outro?
— O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire consciência de si mesmo. Não haveria liberdade, se a escolha fosse provocada por uma causa estranha a vontade do Espírito. A causa não está nele, mas no exterior, nas influências a que ele cede em virtude de sua espontânea vontade. Esta é a grande figura da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação e outros a resistiram.
122-a. De onde vêm as influências que se exercem sobre ele?
— Dos Espíritos imperfeitos que procuram envolvê-lo e dominá-lo, e que ficam felizes de fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis representar na figura de Satanás.
122-b. Esta influência só se exerce sobre o Espírito na sua origem?
— Segue-o na vida de Espírito, até que ele tenha de tal maneira adquirido o domínio de si mesmo, que os maus desistam de obsidiá-lo.
123. Por que Deus permitiu que os Espíritos pudessem seguir o caminho do mal?
— Como ousais pedir a Deus conta dos seus atos? Pensais poder penetrar os seus desígnios? Entretanto, podeis dizer: A sabedoria de Deus se encontra na liberdade de escolha que concede a cada um, porque assim cada um tem o mérito de suas obras.
124. Havendo Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto, e outros o do mal absoluto, haverá gradações, sem dúvida, entre esses dois extremos?
— Sim, por certo, e constituem a grande maioria.
125. Os Espíritos que seguiram o caminho do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?
— Sim, mas as eternidades serão mais longas para eles.
Comentário de Kardec: Por essa expressão, as eternidades, devemos entender a ideia que os Espíritos inferiores fazem da perpetuidade dos seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver. Essa ideia se renova em todas as provas nas quais sucumbem.
126. Os Espíritos que chegam ao supremo grau, depois de passarem pelo mal, têm menos mérito que os outros, aos olhos de Deus?
— Deus contempla os extraviados com o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo modo. Eles são chamados maus porque sucumbiram; antes, não eram mais que simples Espíritos.
127. Os Espíritos são criados iguais quanto as faculdades intelectuais?
— São criados iguais, mas não sabendo de onde vêm, é necessário que o livre-arbítrio se desenvolva. Progridem mais ou menos rapidamente, tanto em inteligência como em moralidade.
Comentário de Kardec: Os Espíritos que seguem desde o princípio o caminho do bem, nem por isso são Espíritos perfeitos; se não têm mais tendências, não estão menos obrigados a adquirir a experiência e os conhecimentos necessários à perfeição. Podemos compará-los a crianças que, qualquer que seja a bondade dos seus instintos naturais, têm necessidade de desenvolver-se, de esclarecer-se, e não chegam sem transição da infância à maturidade. Assim como temos homens que são bons e outros que são maus, desde a infância, há Espíritos que são bons ou maus, desde o princípio, com a diferença capital de que a criança traz os seus instintos formados, enquanto o Espírito, na sua formação, não possui mais maldade que bondade. Ele tem todas as tendências, e toma uma direção ou outra em virtude do seu livre arbítrio.