Dissertações Espíritas: O perdão
(Revista Espírita, agosto de 1862)
(Sociedade espírita de Paris - Médium: Sr. A. Didier)
Como se pode achar em si a força para perdoar? A sublimidade do perdão é a morte do Cristo no Gólgota. Ora, eu já vos disse que o Cristo tinha resumido em sua vida todas as angústias e lutas humanas. Todos os que mereciam o nome de cristãos diante de Jesus Cristo morreram com o perdão nos lábios. Os defensores das liberdades oprimidas, os mártires das verdades e das grandes causas de tal modo compreenderam a elevação e a sublimidade de sua vida que não faliram no último instante e perdoaram. Se o perdão de Augusto não é inteiramente sublime historicamente, o Augusto de Corneille, o grande trágico, é senhor de si como do Universo, porque perdoa. Ah! Como são mesquinhos e miseráveis os que possuíam o mundo e não perdoavam! Como é grande aquele que continha, no futuro dos séculos, todas as humanidades espirituais e que perdoou!
O perdão é uma inspiração e, por vezes, um conselho dos Espíritos. Infelizes os que fecham o coração a essa voz. Eles serão punidos, como diz a Escritura, porque tinham ouvidos e não escutaram. Então! Se quereis perdoar; se vos sentis fracos diante de vós mesmos, contemplai a morte do Cristo. Quem conhece a si próprio triunfa facilmente de si mesmo. Eis por que o grande príncipe da sabedoria antiga sabia, antes de mais nada, conhecer-se a si próprio. Antes de se lançar à luta ensinava-se aos atletas para os jogos, para as lutas grandiosas, os meios seguros de vencer. Ao lado disso, nos liceus, Sócrates ensinava que havia um Ser Supremo e, algum tempo depois, séculos antes do Cristo, ensinava toda a nação grega a morrer e a perdoar.
O homem vicioso, mesquinho e fraco, não perdoa. O homem habituado às lutas pessoais, às reflexões justas e sãs, perdoa facilmente.
LAMENNAIS11
Instruções dos Espíritos: O Duelo
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 12, item 12)
SANTO AGOSTINHO (Paris, 1862)
O duelo pode, sem dúvida, em certos casos, ser uma prova de coragem física, de menosprezo pela vida, mas é incontestavelmente uma prova de covardia moral, como o suicídio. O suicida não tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida: o duelista não a tem para suportar as ofensas.
Cristo não vos disse que há mais honra e coragem em oferecer a face esquerda a quem vos feriu a direita, do que em se vingar de uma injúria? Cristo não disse a Pedro, no Jardim das Oliveiras: “Embainha de novo tua espada, pois aquele que mata pela espada perecerá pela espada?” Por essas palavras, Jesus não condenou o duelo para sempre?
Com efeito, meus filhos, que coragem é essa, que brota de um temperamento violento, pletórico e furioso, bramindo à primeira ofensa? Onde está a grandeza de alma daquele que, à menor injúria, quer lavá-la em sangue? Mas que trema, porque sempre, do fundo da sua consciência, uma voz lhe gritará: Caim! Caim! Que fizeste de teu irmão? Ele responderá: Foi necessário o sangue para salvar minha honra! Mas a voz replicará: Quiseste salvá-la perante os homens nos breves instantes que te restavam na Terra, e não pensaste em salvá-la perante Deus! Pobre louco, quê de sangue não vos pediria então o Cristo, por todos os ultrajes que lhe tendes feito? Não somente o feristes com os espinhos e a lança, não somente o erguestes num madeiro infamante, mas ainda, em meio de sua agonia, pode ele ouvir as zombarias que lhe prodigalizastes. Que reparações vos pediu ele, depois de tantos ultrajes? O último gemido do cordeiro foi uma prece pelos seus algozes. Oh, como ele, perdoai e orai pelos que vos ofendem!
Amigos, lembrai-vos deste preceito: Amai-vos uns aos outros, e então, ao golpe do ódio respondereis com um sorriso, e ao ultraje com o perdão. O mundo sem dúvida se erguerá furioso e vos chamará de covarde: erguei a fronte bem alta e mostrai, então, que a vossa fronte também não recearia ser coroada de espinhos, a exemplo do Cristo, mas que a vossa mão não quer participar de um assassinato autorizado, podemos dizer, por uma falsa aparência de honra, que nada mais é senão orgulho e amor próprio.
Ao vos criar, Deus vos deu o direito de vida e de morte, uns sobre os outros? Não, pois só deu esse direito à natureza, para se reformar e se refazer. Mas a vós, nem sequer permitiu dispordes de vós mesmos. Como o suicida, o duelista estará marcado de sangue quando comparecer perante Deus, e a um como a outro, o soberano Juiz reserva rudes e longos castigos. Se ameaçou com a sua justiça àqueles que dizem racca a seus irmãos, quanto mais severa não será a pena reservada àquele que comparecer diante dele com as mãos sujas do sangue de um irmão!12
Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha – a caridade. Mas não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio no coração e sem perdão.13