Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?
Um sábio da antiguidade já o disse: Conhece-te a ti mesmo. O conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual. Mas alguém perguntará: Como julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é real, mas existe um meio de verificação que não pode iludir-nos. Quando estivermos indecisos sobre o valor de uma de nossas ações, pensemos como a qualificaríamos, se praticada por outra pessoa. Se a censuramos em outra pessoa, não a poderemos ter por legítima quando formos seu autor, pois Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procuremos também saber o que dela pensam os nossos semelhantes e não desprezemos a opinião dos nossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao nosso lado como um espelho, a fim de que sejamos advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.
(Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, questões 919 e 919-A.)