O arrependimento

O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, porque desperta esperança e prepara a reabilitação, mas somente a reparação pode anular o efeito ao destruir a causa.

 

O arrependimento

(Revista Espírita, julho de 1863 » Dissertações espíritas » O arrependimento)

O arrependimento sobe a Deus; e lhe é mais agradável que o fumo dos sacrifícios e mais precioso que o incenso espalhado nos recintos sagrados. Semelhante às tempestades que varam o ar, purificando-o, o arrependimento é um sofrimento fecundo, uma força reativa e atuante. Jesus santificou sua virtude, e as lágrimas de Madalena se espalharam como orvalho sobre os corações endurecidos que ignoravam a graça do perdão. A soberana virtude proclamou o poder do arrependimento e os séculos repercutiram, enfraquecendo-o, a palavra do Cristo.

É chegada a hora em que o Espiritismo deve rejuvenescer e vivificar a essência mesma do cristianismo. Assim, por toda parte e para sempre, apagai a cruel sentença que despoja a alma culpada de toda esperança. O arrependimento é uma virtude militante, uma virtude viril, que só os Espíritos adiantados ou os corações ternos podem sentir. O pesar momentâneo e causticante de uma falta não arrasta consigo a expiação que dá o conhecimento da justiça de Deus, justiça rigorosa em suas conclusões, que aplica a lei de Talião à vida moral e física do homem e o castiga pela lógica dos fatos, todos decorrentes do bom ou mau uso do livre arbítrio.

Amai aos que sofrem e assisti o arrependimento, que é a expressão e o sinal que Deus imprimiu na sua criatura inteligente, para a elevar e aproximar de si.

João, discípulo.1


Remorso e arrependimento

(Revista Espírita, maio de 1860 » Ditados espontâneos » Remorso e arrependimento)

Sinto-me feliz ao ver-vos todos reunidos pela mesma fé e pelo amor a Deus Todo-Poderoso, nosso divino Senhor. Possa ele sempre guiar-vos no bom caminho e cumular-vos com seus benefícios, o que fará se vos tornardes dignos.

Amai-vos sempre uns aos outros, como irmãos; prestai-vos mútuo auxílio, e que o amor ao próximo não vos seja uma palavra vazia de sentido.

Lembrai-vos de que a caridade é a mais bela das virtudes, e que, de todas, é a mais agradável a Deus, não só dessa caridade que dá um óbolo ao infeliz, mas dessa que se compadece das misérias de nossos irmãos; que vos faz partilhar de suas dores morais, aliviar o fardo que os oprime, a fim de lhes tornar a dor menos viva e a vida mais fácil.

Lembrai-vos de que o arrependimento sincero obtém o perdão de todas as faltas, tão grande é a bondade de Deus. O remorso nada tem em comum com o arrependimento. O remorso, meus irmãos, já é o prelúdio do castigo. O arrependimento, a caridade e a fé vos conduzirão às felicidades reservadas aos bons Espíritos.

Um anjo Guardião.2


Expiação e Arrependimento

(O Livro dos Espíritos » Perguntas 990 a 1002)

990. O arrependimento se verifica no estado corpóreo ou no estado espiritual?

— No estado espiritual. Mas pode também verificar-se no estado corpóreo, quando bem compreendeis a distinção entre o bem e o mal.

991. Qual é a consequência do arrependimento no estado espiritual?

— O desejo de uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o impedem de ser feliz e aspira a uma nova existência, onde possa expiar as suas faltas. (Ver 332975)

992. Qual é a consequência do arrependimento no estado corpóreo?

— Adiantar-se ainda na vida presente se houver tempo para a reparação das faltas. Quando a consciência reprova e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar.

993. Não há homens que só possuem o instinto do mal, sendo inacessíveis ao arrependimento?

— Já te disse que se deve progredir sem cessar. Aquele que nesta vida só possui o instinto do mal, numa outra terá o do bem, e é para isso que ele renasce muitas vezes, pois é necessário que todos avancem e atinjam o alvo, uns com mais rapidez e outros de maneira mais demorada, segundo os seus desejos. Aquele que só tem o instinto do bem já está purificado, porque pode ter tido o do mal numa existência anterior. (Ver item 894).

994. O homem perverso, que durante a vida não reconheceu suas faltas, sempre as reconhecerá depois da morte?

— Sim, sempre as reconhece e então sofre mais porque sente todo o mal que praticou ou do qual foi a causa voluntária. Entretanto, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam no mau caminho apesar dos sofrimentos, mas cedo ou tarde reconhecerão haver tomado uma senda falsa e o arrependimento se manifestará. É para os esclarecer que os bons Espíritos trabalham e que vós mesmos podeis trabalhar.

995. Há Espíritos que, sem serem maus, sejam indiferentes à própria sorte?

— Há Espíritos que não se ocupam de nada útil: estão na expectativa. Mas sofrem de acordo com a situação e como em tudo deve haver progresso, este se manifesta pela dor.

995-a. Não têm eles o desejo de abreviar seus sofrimentos?

— Sem dúvida o têm, mas não dispõem de bastante energia para querer o que os poderia aliviar. Quantas pessoas entre vós preferem morrer na miséria a trabalhar?

996. Desde que os Espíritos veem o mal que resulta de suas imperfeições, como se explica que alguns agravem a sua posição e prolonguem o seu estado de inferioridade praticando o mal como Espíritos e desviando os homens do bom caminho?

— São os de arrependimento tardio que agem assim. O Espírito que se arrepende pode se deixar novamente arrastar ao caminho do mal por outros Espíritos ainda mais atrasados. (Ver item 791).

997. Veem-se Espíritos de notória inferioridade que são acessíveis aos bons sentimentos e às preces feitas em seu favor. Como se explica que outros Espíritos, que nos pareceriam mais esclarecidos, revelem um endurecimento e um cinismo a toda prova?

— A prece só tem efeito em favor do Espírito que se arrepende. Aquele que, impulsionado pelo orgulho, se revolta contra Deus e persiste nos seus erros, exagerando-os ainda, como o fazem infelizes Espíritos, nada pode receber da prece e nada receberá até o dia em que uma luz de arrependimento o esclareça. (Ver item 664).

Comentário de Kardec: Não se deve esquecer que após a morte do corpo o Espírito não é subitamente transformado. Se sua vida foi repreensível é que ele era imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Ele pode persistir nos seus erros, nas suas falsas opiniões, em seus preconceitos até que seja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento.

998. A expiação se realiza no estado corpóreo ou no estado de Espírito?

— Ela se cumpre na existência corpórea, através das provas a que o Espírito é submetido, e na vida espiritual pelos sofrimentos morais decorrentes do seu estado de inferioridade.

999. O arrependimento sincero durante a vida é suficiente para extinguir as faltas e fazer que se mereça a graça de Deus?

— O arrependimento auxilia a melhora do Espírito, mas o passado deve ser expiado.

999-a. Se de acordo com isso um criminoso dissesse que, tendo de expiar o seu passado, não precisa se arrepender, quais seriam para ele as consequências?

— Se teimar no pensamento do mal sua expiação será mais longa e mais penosa.

1.000. Podemos nós, já nesta vida, resgatar as nossas faltas?

— Sim, reparando-as. Mas não julgueis resgatá-las por algumas privações pueris ou por meio de doações de após morte, quando de nada mais necessitais. Deus não considera um arrependimento estéril, sempre fácil e que só custa o trabalho de bater no peito. A perda de um dedo, quando se presta um serviço, apaga maior número de faltas do que o cilício suportado durante anos, sem outro objetivo que o bem de si mesmo. (Ver item 726). O mal não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem mérito algum, se não atingir o homem no seu orgulho ou nos seus interesses materiais. De que serve restituir após a morte como justificação os bens mal adquiridos, que foram desfrutados em vida e já não lhe servem para nada? De que lhe serve a privação de alguns gozos fúteis e de algumas superfluidades, se o mal que fez a outrem continua o mesmo? De que lhe serve, enfim, humilhar-se diante de Deus, se conserva o seu orgulho diante dos homens? (Ver itens 720-721).

1.001. Não há nenhum mérito em se assegurar, após a morte, um emprego útil para os bens que deixamos?

— Nenhum mérito não é bem o termo; isso vale sempre mais do que nada; mas o mal é aquele que dá ao morrer, geralmente é mais egoísta do que generoso: quer ter as honras do bem sem lhe haver provado as penas. Aquele que se priva em vida tem duplo proveito: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que beneficiou. Mas há sempre o egoísmo a dizer ao homem: o que dás, tiras dos teus próprios gozos. E como o egoísmo fala mais alto que o desinteresse e a caridade, ele guarda em vez de dar, sob o pretexto das suas necessidades e das exigências da sua posição. Ah! lastimai aquele que desconhece o prazer de dar, porque foi realmente deserdado de um dos mais puros e suaves gozos do homem. Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, quis dar-lhe em compensação a ventura da generosidade, de que ele pode gozar neste mundo. (Ver item 814).

1.002. O que deve fazer aquele que em artigo de morte reconhece as suas faltas mas não tem tempo para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso?

— O arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha?

Código penal da vida futura

(O Céu e o Inferno » Cap. 7 - As penas futuras segundo o Espiritismo » Itens 16 a 19)

16°) O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, porque desperta esperança e prepara a reabilitação, mas somente a reparação pode anular o efeito ao destruir a causa. O perdão seria uma graça e não uma anulação da falta.

17°) O arrependimento pode ocorrer em qualquer lugar e tempo. Se ele for tardio, o culpado sofre por mais tempo. A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que são a consequência da falta cometida, seja desde a vida presente ou seja após a morte, na vida espiritual, ou ainda numa nova existência corpórea, até que os traços da falta tenham desaparecido.

A reparação consiste em praticar o bem para aquele mesmo, a quem se fez o mal. Aquele que não repara os seus erros nesta vida, por fraqueza ou má vontade, tornará a encontrar-se, numa outra existência, com as mesmas pessoas que ofendeu, e em condições escolhidas por ele mesmo para poder provar-lhes o seu devotamento, fazendo-lhes tanto bem quanto o mal que havia feito.

Nem todas as faltas acarretam um prejuízo direto e efetivo. Nesses casos, a reparação se realiza fazendo-se o que se deixou de fazer, cumprindo-se os deveres que foram negligenciados ou desprezados, as missões em que se tenha falido, praticando-se o bem reparador do mal que se fez. Isso quer dizer, sendo humilde quando se foi orgulhoso, bondoso quando se foi duro, caridoso quando se foi egoísta, benevolente quando se foi maldoso, trabalhador quando se foi preguiçoso, útil quando se foi inútil, temperante quando se foi dissoluto, bom exemplo quando se foi mau e assim por diante. É dessa maneira que o Espírito progride, tornando proveitoso o seu passado*.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, porque desperta esperança e prepara a reabilitação, mas somente a reparação pode anular o efeito ao destruir a causa. O perdão seria uma graça e não uma anulação da falta. (Allan Kardec)

18°) Os Espíritos imperfeitos são afastados dos mundos felizes porque perturbariam a sua harmonia. Permanecem nos mundos inferiores onde expiam as suas faltas pelas tribulações da vida e se libertam das suas imperfeições, até merecerem encarnar-se em mundos moral e fisicamente mais adiantados.

Se podemos conceber um lugar de castigo determinado é precisamente nos mundos de expiação, pois é ao redor desses mundos que pululam os Espíritos imperfeitos desencarnados, esperando uma nova existência que, permitindo-lhes a reparação do mal que fizeram, os ajudará a progredir.

19°) Como o Espírito conserva sempre o seu livre-arbítrio, melhora às vezes de maneira lenta e sua obstinação no mal é bastante tenaz. Pode persistir nessa situação durante anos e séculos, mas chega sempre o momento em que a sua teimosia em desafiar a justiça de Deus se abate diante do sofrimento, e então, malgrado a sua fanfarronice, ele reconhece o poder superior que o domina. Desde o momento em que manifesta as primeiras luzes do arrependimento, Deus o faz entrever a esperança.

Nenhum Espírito está na condição de nunca se melhorar. Se assim fosse ele estaria fatalmente destinado a uma eterna situação de inferioridade e escaparia à lei da evolução que rege providencialmente todas as criaturas.


* NOTA DE KARDEC: A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça que se pode considerar como a verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos. É esta uma doutrina que nenhuma religião proclamou ainda. Entretanto algumas pessoas a repelem, por acharem que seria mais cómodo poder apagar as suas faltas simplesmente pelo arrependimento, que só depende de algumas palavras, com a ajuda de certas fórmulas. Convictas de que assim estarão livres, verão mais tarde que isso não foi suficiente.

Poderíamos perguntar-lhes se esse princípio não está consagrado na lei humana e se a justiça de Deus pode ser inferior à dos homens. Se elas ficariam satisfeitas quando um indivíduo que as tivesse arruinado por abuso de confiança, se limitasse a dizer-lhes que se lamentariam disso infinitamente. Por que, pois, querem elas recuar ante uma obrigação que toda criatura honesta deveria cumprir na medida de suas forças? Quando essa perspectiva da reparação for introduzida na crença popular se transformará num freio bem mais poderoso que o do inferno e das penas eternas pois ela s e refere à vida atual e faz compreender a razão das penas por que o homem está passando.3

As duas lágrimas

(Revista Espírita, maio de 1862 » Dissertações Espíritas » As duas lágrimas)

(Sociedade espírita de Lyon; grupo Villon - Médium: Sra. Boulland)

Um Espírito era forçado a deixar a Terra, que não teria podido visitar, porque vinha de uma região muito inferior. Entretanto, ele havia pedido para sofrer uma prova, e Deus não lha tinha recusado. Ora! A esperança que tinha alimentado ao entrar no mundo terreno não se havia realizado e sua natureza bruta, passando a dominar cada um de seus dias, havia sido marcada por faltas sempre maiores.

Durante muito tempo, todos os Espíritos guias dos homens tinham tentado desviá-lo do caminho que trilhava, mas, cansados de lutar, haviam abandonado esse infeliz a si mesmo, quase temerosos de seu contato.

No entanto, tudo tem um fim. Mais cedo ou mais tarde o crime se descobre e a justiça repressiva dos homens impõe ao culpado a pena de talião. Dessa vez não foi cabeça por cabeça. Foi cabeça por cem. Ontem esse Espírito, depois ter ficado meio século na Terra, ia voltar ao espaço para ser julgado pelo Supremo Juiz, que pesa as faltas muito mais inexoravelmente do que o faríeis vós mesmos.

Em vão os Espíritos guardiães tinham voltado com a condenação e tentado introduzir o arrependimento nessa alma rebelde. Em vão dele tinham aproximado os Espíritos de toda a família. Cada um desejaria arrancar-lhe um suspiro de pesar, ou ao menos um sinal. Aproximava-se o momento fatal e nada emocionava essa alma de bronze e, por assim dizer, bestial.

Entretanto um único pesar, antes de deixar a vida, poderia ter dulcificado os sofrimentos do infeliz, condenado pelos homens a perder a vida, e por Deus aos incessantes remorsos, a horrível tortura semelhante ao abutre a roer o coração que se restaura sem cessar.

Enquanto os Espíritos trabalhavam sem descanso para nele fazer renascer ao menos o pensamento de arrependimento, um outro Espírito, Espírito encantador, dotado de uma sensibilidade e de uma ternura sublimes, voava em redor de uma cabeça muito querida, cabeça ainda viva, e lhe dizia: “Pensa nesse infeliz que vai morrer e fala-me dele”.

Quando a caridade é simpática; quando dois Espíritos se entendem como se fossem apenas um, o pensamento como que se carrega de eletricidade. Logo em seguida o Espírito encarnado disse a esse mensageiro do amor: “Meu filho, procura inspirar um pouco de remorso a esse miserável que vai morrer. Vai e consola-o”.

Pensando nisso, ao compreender tudo o que esse infeliz criminoso ia ter de suportar em sofrimentos para sua expiação, uma lágrima furtiva escapou-se dos olhos daquele que só, nessa hora matinal, levantava-se pensando naquele ser impuro que dentro de instantes deveria prestar contas.

O suave mensageiro recolheu essa lágrima benfazeja na concha da mão minúscula e, em voo rápido, a levou ao tabernáculo onde se guardam essas relíquias, e assim fez a sua prece.

─ Senhor, um ímpio vai morrer. Vós o condenastes, mas dissestes: “Eu perdoo quando há remorso e concedo indulgência quando há arrependimento”. Eis uma lágrima de verdadeira caridade, que extravasou do coração para os olhos do ser que mais amo na Terra. Eu vos trago esta lágrima. É o resgate do sofrimento. Dai-me o poder de enternecer o coração de rocha do Espírito que vai expiar os seus crimes.

─ Vai, respondeu-lhe o Mestre. Vai, meu filho. Essa lágrima bendita pode pagar muitos resgates.

A suave criança partiu e chegou junto do criminoso no momento do suplício. O que ela lhe disse só Deus o sabe; o que se passou naquele ser transviado ninguém compreendeu, mas, abrindo os olhos à luz, ele viu desdobrar-se à sua frente um passado horroroso. Ele, a quem o instrumento fatal não abalava, a quem a condenação à morte tinha feito sorrir, ergueu os olhos e uma grossa lágrima causticante como o chumbo fundido caiu de seus olhos.

A essa prova muda que lhe testemunhava que sua prece tinha sido ouvida, o anjo da caridade estendeu sobre o infeliz as suas brancas asas, recolheu aquela lágrima e parecia dizer: “Infeliz! Sofrerás menos. Eu levo a tua redenção!”

Que contraste pode inspirar a caridade do Criador! O mais impuro dos seres, nos últimos degraus da escada, e o anjo mais casto prestes a entrar no mundo dos eleitos, a um sinal vem estender a sua proteção visível sobre esse pária da Sociedade.

Do alto de seu poderoso tribunal, Deus abençoava essa cena tocante e nós todos dizíamos, rodeando a criança: “Vai receber a tua recompensa.”

A suave mensageira subiu aos Céus, com a lágrima escaldante nas mãos e pôde dizer:

─ Senhor, ele chorou. Eis aqui a prova!

─ Está bem, respondeu o Senhor. Conservai essa primeira gota de orvalho do coração endurecido. Que essa lágrima fecunda vá regar esse Espírito ressequido pelo mal. Mas guardai sobretudo a primeira lágrima que essa criança me trouxe, e que essa gota d’água se torne diamante puro, porque ela é a pérola sem mancha da verdadeira caridade. Contai esse exemplo aos povos e dizei-lhes, solidários uns com os outros: “Olhai e vede! Eis aqui uma lágrima de amor pela Humanidade, e uma lágrima de remorso obtida pela prece. Estas duas lágrimas serão as pedras mais preciosas do vasto escrínio da caridade”.

CÁRITA 4