Afeições

Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?

Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem ou suscetíveis de progredir; os Espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que podem viciar-se; daí o seu apego, resultante da semelhança de sensações.

A afeição dos Espíritos por certas pessoas é exclusivamente moral?

A afeição verdadeira nada tem de carnal; mas quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o faz por afeição, podendo existir no caso uma lembrança de paixões humanas.1

 

(Afeição dos Espíritos por certas pessoas » O Livro dos Espíritos » 486 a 488-a)

486. Os Espíritos se interessam pelos nossos infortúnios e pela nossa prosperidade? Os que nos querem bem se afligem pelos males que experimentamos na vida?

— Os bons Espíritos fazem todo o bem que podem e se sentem felizes com as vossas alegrias. Eles se afligem com os vossos males, quando não os suportais com resignação, porque então esses males não vos dão resultados, pois procedeis como o doente que rejeita o remédio amargo destinado a curá-lo.

487. Qual a espécie de mal que mais faz os Espíritos se afligirem por nós: o mal físico ou o moral?

— Vosso egoísmo e vossa dureza de coração: daí é que tudo deriva. Eles riem de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição, e se rejubilam com os que têm por fim abreviar o vosso tempo de prova.

Comentário de Kardec: Os Espíritos, sabendo que a vida corporal é apenas transitória, e que as atribuições que a acompanham são meios de conduzir a um estado melhor, afligem-se mais pelas causas morais que podem distanciar-nos desse estado, do que pelos males físicos, que são apenas passageiros.

O Espírito que vê nas aflições da vida um meio de adiantamento para nós, considera-as como a crise momentânea que deve salvar o doente. Compadece-se dos nossos sofrimentos como nos compadecemos dos sofrimentos de um amigo, mas vendo as coisas de um ponto de vista mais justo, aprecia-os de maneira diversa, e enquanto os bons reerguem a nossa coragem, no interesse do nosso futuro, os outros, tentando comprometê-lo, nos incitam ao desespero.

488. Nossos parentes e nossos amigos, que nos precederam na outra vida, têm mais simpatia por nós do que os Espíritos que nos são estranhos?

— Sem dúvida, e frequentemente vos protegem como Espíritos, de acordo com o seu poder.

488- a. São eles sensíveis à afeição que lhes conservamos?

— Muito sensíveis, mas esquecem aqueles que os esquecem.2


A reencarnação fortalece os laços de família

(O Evangelho Segundo o Espiritismo » Capítulo IV - Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo » Itens 18 e 19)

Os laços de família não são destruídos pela reencarnação, como pensam certas pessoas. Pelo contrário, são fortalecidos e reapertados. O princípio oposto é que os destrói.

Os Espíritos formam, no espaço, grupos ou famílias, unidos pela afeição, pela simpatia e a semelhança de inclinações. Esses Espíritos, felizes de estarem juntos, procuram-se. A encarnação só os separa momentaneamente, pois que, uma vez retornando a erraticidade, eles se reencontram, como amigos na volta de uma viagem.

Muitas vezes eles seguem juntos na encarnação, reunindo-se numa mesma família ou num mesmo círculo, e trabalham juntos para o seu progresso comum. Se uns estão encarnados e outros não, continuarão unidos pelo pensamento.

Os que estão livres velam pelos que estão cativos, os mais adiantados procurando fazer progredir os retardatários. Após cada existência terão dado mais um passo na senda da perfeição.

Cada vez menos apegados à matéria, seu afeto é mais vivo, por isso mesmo que mais purificado, não perturbado pelo egoísmo nem obscurecido pelas paixões. Assim, eles poderiam percorrer um número ilimitado de existências corporais, sem que nenhum acidente perturbe sua afeição comum.

Entenda-se bem que se trata aqui da verdadeira afeição espiritual, de alma para alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, pois os seres que se unem na Terra apenas pelos sentidos, não têm nenhum motivo para se preocuparem no mundo dos Espíritos. Só são duráveis as afeições espirituais. As afeições carnais extinguem-se com a causa que as provocou; ora, essa causa deixa de existir no mundo dos Espíritos, enquanto a alma sempre existe. Quanto às pessoas que se unem somente por interesse, nada são realmente uma para outra: a morte as separa na Terra e no Céu.

19 – A união e a afeição entre parentes indicam a simpatia anterior que as aproximou. Por isso, diz-se de uma pessoa cujo caráter, cujos gostos e inclinações nada têm de comum com os dos parentes, que ela não pertence à família. Dizendo isso, enuncia-se uma verdade maior do que se pensa. Deus permite essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com a dupla finalidade de servirem de provas para uns e de meio de progresso para outros. Os maus, se melhoram pouco a pouco, ao contacto dos bons e pelas atenções que deles recebem, seu caráter se abranda, seus costumes se depuram, as antipatias desaparecem. É assim que se produz a fusão das diversas categorias de Espíritos, como se faz na Terra entre a raças e os povos.3

Relações Simpáticas e Antipáticas

(O Livro dos Espíritos)

291. Além da simpatia geral, determinada pelas semelhanças, há afeições particulares entre os Espíritos?

— Sim, como entre os homens. Mas o liame que une os Espíritos é mais forte na ausência do corpo, porque não está mais exposto às vicissitudes das paixões.

292. Há aversões entre os Espíritos?

— Não há aversões senão entre os Espíritos impuros, e são estes que excitam entre vós as inimizades e as dissensões.

296. As afeições individuais dos Espíritos são suscetíveis de alteração?

— Não, porque eles não podem enganar-se, não usam mais a máscara sob a qual se ocultam os hipócritas e é por isso que as suas afeições são inalteráveis, quando eles são puros. O amor que os une é para eles a fonte de uma suprema felicidade.

297. A afeição que dois seres mantiveram na Terra prossegue sempre, no mundo dos Espíritos?

— Sim, sem dúvida, se ela se baseia numa verdadeira simpatia; mas se as causas de ordem física tiveram maior influência que a simpatia, ela cessa com as causas. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e mais duráveis que na Terra, porque não estão subordinadas ao capricho dos interesses materiais e do amor-próprio.

939 - Desde que os Espíritos simpáticos são levados a se unir, como se explica que entre os encarnados a afeição frequentemente exista apenas de um lado e o amor mais sincero seja recebido com indiferença e mesmo com repulsa? Como, além disso, a mais viva afeição entre dois seres pode se transformar em antipatia e algumas vezes em ódio?

— Não compreendes, então, que seja uma punição, embora passageira? Além disso, quantos há que pensam amar perdidamente porque julgam apenas as aparências, e quando são obrigados a viver em comum não tardam em reconhecer que se tratava somente de uma paixão material. Não é suficiente estar enamorado de uma pessoa que vos agrada e que supondes dotada de belas qualidades; é vivendo realmente com ela que a podereis apreciar. Quantas uniões, por outro lado, que a princípio pareciam incompatíveis e com o correr do tempo, quando ambos se conheceram melhor, se transformaram num amor terno e durável, porque baseado na estima recíproca! É necessário não esquecer que o Espírito é quem ama, e não o corpo, e que, dissipada a ilusão material, o Espírito vê a realidade.

Há duas espécies de afeição: a do corpo e a da alma, e frequentemente se toma uma pela outra. A afeição da alma, quando pura e simpática, é duradoura; a do corpo é perecível: eis porque os que se julgam amar com um amor eterno acabam se odiando, quando passa a ilusão.4

Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual

(Revista Espírita 1864 » Fevereiro » Dissertações espíritas » Estudos sobre a reencarnação)

A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual que, atuando só, determina a simpatia. Quando é assim, é a alma que ama a alma, e essa afeição só toma força pela manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a aproximar-se. Seus fluidos são atrativos. Se eles estiverem num mesmo globo, serão impelidos um para o outro. Se forem separados pela morte terrena, seus pensamentos unir-se-ão na lembrança, e a reunião far-se-á na liberdade do sono, e quando soar a hora da reencarnação para um deles, ele procurará aproximar-se de seu amigo, entrando no que constitui a sua filiação material, e o fará com tanto mais facilidade quanto seus fluidos perispirituais materiais encontrarem afinidades na matéria corporal dos encarnados que deram à luz o novo ser. Daí um novo acréscimo de afeição, uma nova manifestação do amor. Tal Espírito amigo que vos amou como pai vos amará como filho, como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação em encarnação, e se perpetuará de maneira inalterável quando, realizado o vosso trabalho, viverdes a vida de Espírito.

Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a aproximar-se. Seus fluidos são atrativos. Se eles estiverem num mesmo globo, serão impelidos um para o outro. Se forem separados pela morte terrena, seus pensamentos unir-se-ão na lembrança, e a reunião far-se-á na liberdade do sono...

Mas esta verdadeira afeição não é comum na Terra, e a matéria vem retardá-la, anular-lhe os efeitos, conforme ela domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor sendo espiritual, tudo quanto se refere à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica em estado latente até que, com o predomínio do fluido espiritual, de novo se efetue o progresso simpático.

Resumindo, a afeição espiritual é a única resistente no domínio do Espírito. Na Terra e nas esferas do trabalho corporal, ela concorre para o avanço moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática, realiza milagres de abnegação e de devotamento pelos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a satisfação completa de todas as aspirações e a maior felicidade que o Espírito pode desfrutar.

A Lei de Amor

O amor é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É um fato que tendes podido constatar muitas vezes: o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem por um ser ou um objeto qualquer uma afeição viva e ardente, à prova de todas as vicissitudes, atingindo frequentemente alturas sublimes.

Disse por um ser ou um objeto qualquer, porque existem, entre vós, indivíduos que dispensam tesouros de amor, que lhes transbordam do coração, aos animais, às plantas, e até mesmo aos objetos materiais. Espécies de misantropos a se lamentarem da humanidade em geral, resistem à tendência natural da alma, que busca em seu redor afeição e simpatia. Rebaixam a lei do amor à condição do instinto. Mas, façam o que quiserem, não conseguirão sufocar o germe vivaz que Deus depositou em seus corações, no ato da criação. Esse germe se desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência, e embora frequentemente comprimido pelo egoísmo, é a fonte das santas e doces virtudes que constituem as afeições sinceras e duradouras que vos ajudam a transpor a rota escarpada e árida da existência humana.

Prece pelos Espíritos: Por aqueles que amamos

(O Evangelho Segundo o Espiritismo » Coletânea de Preces Espíritas » Cap. 28 » Itens 62 e 63)

Como é horrível a ideia do nada! Como são dignos de lástima os que pensam que a voz do amigo que chora o seu amigo se perde no vácuo, sem encontrar o menor sinal de resposta! Eles jamais conheceram as afeições puras e santas. Como conhecer, se pensam que tudo morre com o corpo; que o gênio, depois de iluminar o mundo com a sua poderosa inteligência, extingue-se como um sopro, no apagar de um simples jogo de forças materiais; que do ser mais querido, como o pai, a mãe, um filho adorado, não resta mais do que um punhado de poeira, que o vento inevitavelmente dispersará? Como pode um homem sensível indiferente a essa ideia? Como não o gela de horror a ideia de um aniquilamento absoluto, e não o faz pelo menos desejar que assim não seja? Se até a razão não foi suficiente para dissipar as suas dúvidas, eis que o Espiritismo o vem fazer, através das provas materiais de sobrevivência que nos proporciona, e consequentemente da existência dos seres de além túmulo. Justamente por isso, essas provas são acolhidas por toda parte com satisfação. E a confiança renasce, pois o homem sabe, de agora em diante,que a vida terrena é apenas uma rápida passagem,que conduz a uma vida melhor. Seus trabalhos neste mundo não ficam mais perdidos para ele, e as suas mais santas afeições não são rompidas sem qualquer esperança.

Prece: Acolhe favoravelmente, ó Deus de bondade, a prece que vos dirijo pelo Espírito de Fulano! Faze-lhe perceber as tuas luzes divinas, e facilita-lhe o caminho da felicidade eterna! Permite que os Bons Espíritos levem até ele as minhas palavras e o meu pensamento. E tu, que eu tanto queria neste mundo, ouve a minha voz que te chama para dar-te uma nova prova da minha afeição! Deus permitiu que fosses libertado antes de mim, e eu não poderia lamentá-lo sem demonstrar egoísmo, porque equivaleria a desejar que continuasse sujeito às penas e aos sofrimentos da vida. Espero, pois, com resignação, o momento da nossa união, nesse mundo mais feliz, a que chegaste antes de mim. Bem sei que a nossa separação é apenas momentânea, e que, por mais longa ela possa me parecer, sua duração se esvai diante da eternidade de ventura que Deus promete aos seus eleitos. Que a sua bondade me livre de fazer qualquer coisa que possa retardar esse instante desejado, e que assim me poupe à dor de não te encontrar, ao sair do meu cativeiro terreno. Oh, como é doce e consoladora a certeza de não haver, entre nós, mais do que um véu material, que te esconde ao meu olhar; a certeza de que podes estar aqui, ao meu lado, ver-me e ouvir-me como outrora; de que não me esqueces, da mesma maneira como não te esqueço; de que os nossos pensamentos se confundem incessantemente, e de que o teu me segue e me ampara sempre! Que a paz do Senhor esteja contigo!


A amizade e a Prece

(Revista Espírita » Junho de 1863)