Atmosfera Espiritual

O Espiritismo nos ensina que os Espíritos constituem a população invisível do globo; que estão no espaço e entre nós, vendo-nos e acotovelando-nos incessantemente, de tal modo que, quando nos julgamos sós, temos constantemente testemunhas secretas de nossas ações e pensamentos.

Isso pode, para certas pessoas, parecer constrangedor; mas, sendo um fato, não se pode impedir que o seja. Cabe a cada um proceder como o homem virtuoso que não temeria que sua casa fosse feita de vidro.

A essa causa, sem dúvida, é que se deve atribuir a revelação de tantas torpezas e más ações que se acreditavam ocultas na sombra.

 

Sabemos, ademais, que numa reunião sempre há, além dos seres corporais, os assistentes invisíveis; que, sendo a permeabilidade uma das propriedades do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado, mesmo num espaço circunscrito. Disseram-nos muitas vezes que em certas sessões havia inumeráveis Espíritos. Na explicação dada ao Sr. Bertrand acerca das comunicações coletivas que obteve, afirma-se que o número de Espíritos presentes era tão grande que a atmosfera estava, por assim dizer, saturada de seus fluidos. Tal fato não é novo para os espíritas; todavia, talvez não se hajam deduzido dele todas as conseqüências.

Sabe-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme o seu grau de depuração. Conhece-se seu poder curativo, em certos casos, bem como seus efeitos mórbidos, de um indivíduo sobre outro. Ora, visto que o ar pode ser saturado desses fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que se reúnem em um determinado lugar, o ar ambiente esteja impregnado de elementos salutares ou malsãos, elementos esses que exercem influência tanto sobre a saúde física como moral dos que nele se encontrem? Quando se considera a energia da ação que um único Espírito pode exercer sobre um homem, será de surpreender a que resulte de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Tal ação será boa ou má, segundo seja benéfico ou maléfico o fluido que os Espíritos vertam num determinado ambiente, fluido que age de modo semelhante às emanações fortificantes ou aos miasmas deletérios que se disseminam no ar. Desse modo podem-se explicar certos efeitos coletivos que se produzem sobre as massas de pessoas; a sensação de bem-estar ou mal-estar que se experimenta em determinados meios, sem causa aparente conhecida; o arrastamento coletivo para o bem ou para o mal; os impulsos generosos, o entusiasmo ou o desencorajamento, a espécie de vertigem que por vezes se apodera de toda uma assembléia, de toda um cidade, ou mesmo de todo um povo. Cada indivíduo sofre, proporcionalmente ao seu grau de sensibilidade, a influência dessa atmosfera viciada ou vivificante. Nesse fato indubitável sobre as relações do mundo espiritual com o corporal, confirmado pela teoria e pela experiência, encontramos um novo princípio de higiene, que um dia a ciência fará seja reconhecido por todos.

Poderemos subtrair-nos a essas influências, que emanam de fonte inacessível aos meios materiais? Sem nenhuma dúvida! Pois do mesmo modo que saneamos os lugares insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a atmosfera moral que nos envolve, subtraindo-nos às influências perniciosas dos fluidos espirituais malsãos; e de forma mais fácil do que escapamos às exalações pantanosas, já que isso depende unicamente de nossa vontade. Esse não será um dos menores benefícios do Espiritismo, quando for compreendido, e sobretudo praticado, universalmente.

Um princípio perfeitamente comprovado para todo espírita é que as qualidades do fluido espiritual estão na razão direta das qualidades do Espírito encarnado ou desencarnado. Quanto mais elevados e desprendidos das influências da matéria forem seus sentimentos, mais depurado será seu fluido. De acordo com os pensamentos dominantes que tenha, um encarnado irradia fluidos impregnados desses pensamentos, que os viciam ou saneiam; fluidos realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, perceptíveis porém aos sentidos perispirituais e visíveis aos olhos da alma, dado que impressionam fisicamente e assumem aparências muito diversas, para aqueles que são dotados da vista espiritual.

Quando se considera a energia da ação que um único Espírito pode exercer sobre um homem, será de surpreender a que resulte de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Tal ação será boa ou má, segundo seja benéfico ou maléfico o fluido que os Espíritos vertam num determinado ambiente (...)"

A mera presença de encarnados numa assembléia determina, pois, que os fluidos ambientes sejam salubres ou insalubres, segundo sejam bons ou maus os pensamentos aí dominantes. Quem quer que alimente pensamentos de ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, cupidez, falsidade, hipocrisia, maledicência, malevolência – em uma palavra, pensamentos provenientes da fonte das paixões más – espalha ao seu redor eflúvios fluídicos malsãos, que reagem sobre os que estejam à sua volta. Numa assembléia em que, ao contrário, cada um traga apenas sentimentos de bondade, de caridade, de humildade, de devotamento desinteressado, de benevolência e amor ao próximo, o ar estará impregnado de emanações salutares, em meio às quais sentimos bem-estar.

Se considerarmos, agora, que os pensamentos atraem pensamentos de mesma natureza, e que os fluidos atraem fluidos similares, compreenderemos que cada indivíduo traz consigo um cortejo de Espíritos que lhe são simpáticos, bons ou maus, e que, assim, o ar será saturado de fluidos correspondentes aos pensamentos predominantes. Se os maus pensamentos estão em minoria, não impedem que as boas influências se façam presentes, mas estas ficam paralisadas. Se eles dominam, enfraquecem a irradiação fluídica dos Espíritos bons, ou mesmo, por vezes, impedem que os fluidos bons penetrem no ambiente, do mesmo modo que a névoa enfraquece ou barra os raios do Sol.

Qual, portanto, o meio de nos subtrairmos à influência dos maus fluidos? Ele ressalta do estudo da própria causa que produz o mal. Que fazemos quando reconhecemos que um alimento é prejudicial à saúde? Rejeitamo-lo, substituindo-o por um mais saudável. Ora, visto que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e os atraem, é preciso que nos esforcemos para ter somente bons pensamentos, repelindo tudo o que for ruim, da mesma forma que repelimos um alimento que pode nos tornar doentes – em uma palavra, é preciso trabalhar por nossa melhoria moral. Servindo-nos de uma comparação evangélica, devemos “não apenas limpar o vaso por fora, mas limpá-lo sobretudo por dentro”.

Melhorando-se, a Humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em meio à qual vive, porque não lhe derramará senão bons fluidos, sendo que estes oporão barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra vier a ser ocupada apenas por homens que pratiquem entre si as leis divinas do amor e da caridade, não há dúvida de que então eles se encontrarão em condições de higiene física e moral muito diferentes das que existem hoje.

Esse tempo está certamente distante, mas, enquanto não chega, tais condições melhores podem existir parcialmente, cabendo às assembléias espíritas justamente fornecer o exemplo. Os que conhecem a luz serão tanto mais repreensíveis quanto houverem possuído entre as mãos os meios de se iluminar; serão responsabilizados pelos atrasos que seu mau exemplo e sua má-vontade acarretarem para o processo de melhoria geral.

Trata-se de uma utopia, de uma declamação vã? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos que o Espiritismo a cada dia nos revela. Efetivamente, o Espiritismo nos prova que o elemento espiritual, que até hoje se considerou como a antítese do elemento material, guarda com ele uma conexão íntima, de onde resulta uma multidão de fenômenos ainda não observados ou compreendidos. Quando a ciência houver assimilado os elementos fornecidos pelo Espiritismo, daí tirará novos e importantes recursos para a própria melhoria material da Humanidade. Vemos, assim, ampliar-se diariamente o círculo das aplicações da doutrina, que está longe de restringir-se ao fenômeno pueril das mesas girantes, como alguns ainda pensam. O Espiritismo não tomou verdadeiramente impulso senão quando entrou pela via filosófica. Ficou então menos divertido para certas pessoas, que nele buscavam apenas uma distração; mas por outro lado passou a ser apreciado por pessoas sérias, e o será cada vez mais, à medida que for melhor compreendido em suas consequências.

(Revista Espírita 1867 » Maio » Atmosfera espiritual)

Elementos fluídicos

(A Gênese » Os milagres segundo o Espiritismo » Capítulo XIV - Os fluidos » I - Natureza e propriedades dos fluidos » Elementos fluídicos)

1. A Ciência resolveu a questão dos milagres que mais particularmente derivam do elemento material, quer explicando-os, quer lhes demonstrando a impossibilidade, em face das leis que regem a matéria. Mas, os fenômenos em que prepondera o elemento espiritual, esses, não podendo ser explicados unicamente por meio das leis da matéria, escapam às investigações da Ciência. Tal a razão por que eles, mais do que os outros, apresentam os caracteres aparentes do maravilhoso. É, pois, nas leis que regem a vida espiritual que se pode encontrar a explicação dos milagres dessa categoria.


2. O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. (Cap. X.) Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados. (Cap. VI, nos 10 e seguintes.)

Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fenômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo visível e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados fenômenos materiais, são da alçada da Ciência propriamente dita, os outros, qualificados de fenômenos espirituais ou psíquicos, porque se ligam de modo especial à existência dos Espíritos, cabem nas atribuições do Espiritismo. Como, porém, a vida espiritual e a vida corporal se acham incessantemente em contacto, os fenômenos das duas categorias muitas vezes se produzem simultaneamente. No estado de encarnação, o homem somente pode perceber os fenômenos psíquicos que se prendem à vida corpórea; os do domínio espiritual escapam aos sentidos materiais e só podem ser percebidos no estado de Espírito. [1]


3. No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível.

Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes.

Lá, porém, como neste mundo, somente aos Espíritos mais esclarecidos é dado compreender o papel que desempenham os elementos constitutivos do mundo onde eles se acham. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes de explicar a si mesmos os fenômenos a que assistem e para os quais muitas vezes concorrem maquinalmente, como os ignorantes da Terra o são para explicar os efeitos da luz ou da eletricidade, para dizer de que modo é que vêem e escutam.


4. Os elementos fluídicos do mundo espiritual escapam aos nossos instrumentos de análise e à percepção dos nossos sentidos, feitos para perceberem a matéria tangível e não a matéria etérea. Alguns há, pertencentes a um meio diverso a tal ponto do nosso, que deles só podemos fazer idéia mediante comparações tão imperfeitas como aquelas mediante as quais um cego de nascença procura fazer idéia da teoria das cores.

Mas, entre tais fluidos, há os tão intimamente ligados à vida corporal, que, de certa forma, pertencem ao meio terreno. Em falta de observação direta, seus efeitos podem observar-se, como se observam os do fluido do ímã, fluido que jamais se viu, podendo-se adquirir sobre a natureza deles conhecimentos de alguma precisão. É essencial esse estudo, porque está nele a chave de uma imensidade de fenômenos que não se conseguem explicar unicamente com as leis da matéria.

Foto de um ímã atraíndo pó de ferro.

5. A pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia, é o ponto de partida do fluido universal; o ponto oposto é o em que ele se transforma em matéria tangível. Entre esses dois extremos, dão-se inúmeras transformações, mais ou menos aproximadas de um e de outro. Os fluidos mais próximos da materialidade, os menos puros, conseguintemente, compõem o que se pode chamar a atmosfera espiritual da Terra. É desse meio, onde igualmente vários são os graus de pureza, que os Espíritos encarnados e desencarnados, deste planeta, haurem os elementos necessários à economia de suas existências. Por muito sutis e impalpáveis que nos sejam esses fluidos, não deixam por isso de ser de natureza grosseira, em comparação com os fluidos etéreos das regiões superiores.

O mesmo se dá na superfície de todos os mundos, salvo as diferenças de constituição e as condições de vitalidade próprias de cada um. Quanto menos material é a vida neles, tanto menos afinidades têm os fluidos espirituais com a matéria propriamente dita.

Não é rigorosamente exata a qualificação de fluidos espirituais, pois que, em definitiva, eles são sempre matéria mais ou menos quintessenciada. De realmente espiritual, só a alma ou princípio inteligente. Dá-se-lhes essa denominação por comparação apenas e, sobretudo, pela afinidade que eles guardam com os Espíritos. Pode dizer-se que são a matéria do mundo espiritual, razão por que são chamados fluidos espirituais.


6. Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria tangível? Ela talvez somente seja compacta em relação aos nossos sentidos; prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam os fluidos espirituais e os Espíritos, aos quais não oferece maior obstáculo, do que o que os corpos transparentes oferecem à luz.

Tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo, à matéria tangível há de ser possível, desagregando-se, voltar ao estado de eterização, do mesmo modo que o diamante, o mais duro dos corpos, pode volatilizar-se em gás impalpável. Na realidade, a solidificação da matéria não é mais do que um estado transitório do fluido universal, que pode volver ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as condições de coesão.

Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria não é suscetível de adquirir uma espécie de eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos, que parecem autênticos, tenderiam a fazer supô-lo. Ainda não conhecemos senão as fronteiras do mundo invisível; o porvir, sem dúvida, nos reserva o conhecimento de novas leis, que nos permitirão compreender o que se nos conserva em mistério.


[1] A denominação de fenômeno psíquico exprime com mais exatidão o pensamento, do que a de fenômeno espiritual, dado que esses fenômenos repousam sobre as propriedades e os atributos da alma, ou, melhor, dos fluidos perispiríticos, inseparáveis da alma. Esta qualificação os liga mais intimamente à ordem dos fatos naturais regidos por leis; pode-se, pois, admiti-los como efeitos psíquicos, sem os admitir a título de milagres.

Qualidade dos fluidos

(A Gênese » Os milagres segundo o Espiritismo » Capítulo XIV - Os fluidos » I - Natureza e propriedades dos fluidos » Qualidade dos fluidos)

16. Tem consequências de importância capital e direta para os encarnados a ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais. Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. Os fluidos que envolvem os Espíritos maus, ou que estes projetam são, portanto, viciados, ao passo que os que recebem a influência dos bons Espíritos são tão puros quanto o comporta o grau da perfeição moral destes.


17. Fora impossível fazer-se uma enumeração ou classificação dos bons e dos maus fluidos, ou especificar-lhes as respectivas qualidades, por ser tão grande quanto a dos pensamentos a diversidade deles.

Os fluidos não possuem qualidades sui generis, mas as que adquirem no meio onde se elaboram; modificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, a água pelos sais das camadas que atravessa. Conforme as circunstâncias, suas qualidades são, como as da água e do ar, temporárias ou permanentes, o que os torna muito especialmente apropriados à produção de tais ou tais efeitos.

Também carecem de denominações particulares. Como os odores, eles são designados pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc. O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem.


18. Sendo apenas Espíritos encarnados, os homens têm, em parte, as atribuições da vida espiritual, visto que vivem dessa vida tanto quanto da vida corporal; primeiramente, durante o sono e, muitas vezes, no estado de vigília. O Espírito, encarnado, conserva, com as qualidades que lhe são próprias, o seu perispírito que, como se sabe, não fica circunscrito pelo corpo, mas irradia ao seu derredor e o envolve como que de uma atmosfera fluídica.

Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha preponderante papel no organismo. Pela sua expansão, põe o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e também com os Espíritos encarnados.

O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.

Desde que estes se modificam pela projeção dos pensamentos do Espírito, seu invólucro perispirítico, que é parte constituinte do seu ser e que recebe de modo direto e permanente a impressão de seus pensamentos, há de, ainda mais, guardar a de suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem depurar-se pelo afastamento destes, cujos perispíritos, porém, serão sempre os mesmos, enquanto o Espírito não se modificar por si próprio.

Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e sua irradiação, o perispírito com eles se confunde.

Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contacto molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades.

Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas pestilenciais.

O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes."

19. Assim se explicam os efeitos que se produzem nos lugares de reunião. Uma assembléia é um foco de irradiação de pensamentos diversos. É como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um emite uma nota. Resulta daí uma multiplicidade de correntes e de eflúvios fluídicos cuja impressão cada um recebe pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

Mas, do mesmo modo que há radiações sonoras, harmoniosas ou dissonantes, também há pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto é harmonioso, agradável é a impressão; penosa, se aquele é discordante. Ora, para isso, não se faz mister que o pensamento se exteriorize por palavras; quer ele se externe, quer não, a irradiação existe sempre.

Tal a causa da satisfação que se experimenta numa reunião simpática, animada de pensamentos bons e benévolos. Envolve-a uma como salubre atmosfera moral, onde se respira à vontade; sai-se reconfortado dali, porque impregnado de salutares eflúvios fluídicos. Basta, porém, que se lhe misturem alguns pensamentos maus, para produzirem o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido, ou o de uma nota desafinada num concerto. Desse modo também se explica a ansiedade, o indefinível mal-estar que se experimenta numa reunião antipática, onde malévolos pensamentos provocam correntes de fluido nauseabundo.


20. O pensamento, portanto, produz uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral, fato este que só o Espiritismo podia tornar compreensível. O homem o sente instintivamente, visto que procura as reuniões homogêneas e simpáticas, onde sabe que pode haurir novas forças morais, podendo-se dizer que, em tais reuniões, ele recupera as perdas fluídicas que sofre todos os dias pela irradiação do pensamento, como recupera, por meio dos alimentos, as perdas do corpo material. É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem precisa retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior.

Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas palavras, enuncia-se uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral.


21. Dir-se-á que se podem evitar os homens sabidamente mal-intencionados. É fora de dúvida; mas, como fugiremos à influência dos maus Espíritos que pululam em torno de nós e por toda parte se insinuam, sem serem vistos?

O meio é muito simples, porque depende da vontade do homem, que traz consigo o necessário preservativo. Os fluidos se combinam pela semelhança de suas naturezas; os dessemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.

Que se faz quando está viciado o ar? Procede-se ao seu saneamento, cuida-se de depurá-lo, destruindo o foco dos miasmas, expelindo os eflúvios malsãos, por meio de mais fortes correntes de ar salubre. À invasão, pois, dos maus fluidos, cumpre se oponham os fluidos bons e, como cada um tem no seu próprio perispírito uma fonte fluídica permanente, todos trazem consigo o remédio aplicável. Trata-se apenas de purificar essa fonte e de lhe dar qualidades tais, que se constitua para as más influências um repulsor, em vez de ser uma força atrativa. O perispírito, portanto, é uma couraça a que se deve dar a melhor têmpera possível. Ora, como as suas qualidades guardam relação com as da alma, importa se trabalhe por melhorá-la, pois que são as imperfeições da alma que atraem os Espíritos maus.

As moscas são atraídas pelos focos de corrupção; destruídos esses focos, elas desaparecerão. Os maus Espíritos, igualmente, vão para onde o mal os atrai; eliminado o mal, eles se afastarão. Os Espíritos realmente bons, encarnados ou desencarnados, nada têm que temer da influência dos maus.


Das reuniões em geral

(O Livro dos Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo XXIX - Das reuniões e das Sociedades Espíritas » Das reuniões em geral.)

331. Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for. Se se houver compreendido bem o que foi dito (n. 282, pergunta 5), sobre a maneira por que os Espíritos são avisados do nosso chamado, facilmente se compreenderá o poder da associação dos pensamentos dos assistentes. Desde que o Espírito é de certo modo atingido pelo pensamento, como nós somos pela voz, vinte pessoas, unindo-se com a mesma intenção, terão necessariamente mais força do que uma só; mas, a fim de que todos esses pensamentos concorram para o mesmo fim, preciso é que vibrem em uníssono; que se confundam, por assim dizer, em um só, o que não pode dar-se sem recolhimento.

Por outro lado, o Espírito, em chegando a um meio que lhe seja completamente simpático, aí se sentirá mais à vontade. Sabendo que só encontrará amigos, virá mais facilmente e mais disposto a responder. Quem quer que haja acompanhado com alguma atenção as manifestações espíritas inteligentes forçosamente se há convencido desta verdade. Se os pensamentos forem divergentes, resultará daí um choque de idéias desagradável ao Espírito e, por conseguinte, prejudicial à comunicação. O mesmo acontece com um homem que tenha de falar perante uma assembléia: se sente que todos os pensamentos lhes são simpáticos e benévolos, a impressão que recebe reage sobre as suas próprias idéias e lhes dá mais vivacidade. A unanimidade desse concurso exerce sobre ele uma espécie de ação magnética que lhe decuplica os recursos, ao passo que a indiferença, ou a hostilidade o perturbam e paralisam. É assim que os aplausos eletrizam os atores. Ora, os Espíritos muito mais impressionáveis do que os humanos, muito mais fortemente do que estes sofrem, sem dúvida, a influência do meio.

Toda reunião espírita deve, pois, tender para a maior homogeneidade possível. Está entendido que falamos das em que se deseja chegar a resultados sérios e verdadeiramente úteis. Se o que se quer é apenas obter comunicações sejam estas quais forem, sem nenhuma atenção à qualidade dos que as dêem, evidentemente desnecessárias se tornam todas essas precauções; mas, então, ninguém tem que se queixar da qualidade do produto.

Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe.

332. Sendo o recolhimento e a comunhão dos pensamentos as condições essenciais a toda reunião séria, fácil é de compreender-se que o número excessivo dos assistentes constitui uma das causas mais contrárias à homogeneidade. Não há, é certo, nenhum limite absoluto para esse número e bem se concebe que cem pessoas, suficientemente concentradas e atentas, estarão em melhores condições do que estariam dez, se distraídas e bulhentas. Mas, também é evidente que, quanto maior for o número, tanto mais difícil será o preenchimento dessas condições. Aliás, é fato provado pela experiência que os círculos íntimos, de poucas pessoas, são sempre mais favoráveis às belas comunicações, pelos motivos que vimos de expender.

333. Há ainda outro ponto não menos importante: o da regularidade das reuniões. Em todas, sempre estão presentes Espíritos a que poderíamos chamar freqüentadores habituais, sem que com isso pretendamos referir-nos aos que se encontram em toda parte e em tudo se metem. Aqueles são, ou Espíritos protetores, ou os que mais assiduamente se vêem interrogados.

Ninguém suponha que esses Espíritos nada mais tenham que fazer, senão ouvir o que lhes queiramos dizer, ou perguntar. Eles têm suas ocupações e, além disso, podem achar-se em condições desfavoráveis para serem evocados. Quando as reuniões se efetuam em dias e horas certos, eles se preparam antecipadamente a comparecer e é raro faltarem. Alguns mesmo há que levam ao excesso a sua pontualidade. Formalizam-se, quando se dá o atraso de um quarto de hora e, se são eles que marcam o momento de uma reunião, fora inútil chamá-los antes desse momento.

Acrescentemos, todavia, que, se bem os Espíritos prefiram a regularidade, os de ordem verdadeiramente superior não se mostram meticulosos a esse extremo. A exigência de pontualidade rigorosa é sinal de inferioridade, como tudo o que seja pueril. Mesmo fora das horas predeterminadas, podem eles, sem dúvida, comparecer e se apresentam de boa-vontade, se é útil o fim objetivado. Nada, porém, mais prejudicial às boas comunicações do que os chamar a torto e a direito, quando isso nos acuda à fantasia e, principalmente, sem motivo sério. Como não se acham adstritos a se submeterem aos nossos caprichos, bem pode dar-se que não se movam ao nosso chamado. É então que ocorre tomarem-lhe outros o lugar e os nomes.

Da influência do meio

(O Livro dos Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo XXI - Da influência do meio » Da influência do meio.)

232. Fora erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si os seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, ao nosso lado, vendo-nos, observando-nos, intervindo em nossas reuniões, seguindo-nos, ou evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada influi para isto: ela mais não é do que um meio de comunicação. De acordo com o que dissemos acerca das causas de simpatia ou antipatia dos Espíritos, facilmente se compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade com o nosso próprio Espírito, conforme é este elevado, ou degradado. Consideremos agora o estado moral do nosso planeta e compreenderemos de que gênero devem ser os que predominam entre os Espíritos errantes. Se tomarmos cada povo em particular, poderemos, pelo caráter dominante dos habitantes, pelas suas preocupações, seus sentimentos mais ou menos morais e humanitários, dizer de que ordem são os Espíritos que de preferência se reúnem no seio dele.

Partindo deste princípio, suponhamos uma reunião de homens levianos, inconseqüentes, ocupados com seus prazeres; quais serão os Espíritos que preferentemente os cercarão? Não serão de certo Espíritos superiores, do mesmo modo que não seriam os nossos sábios e filósofos os que iriam passar o seu tempo em semelhante lugar. Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembléia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, feita abstração completa de toda idéia de evocação. Admitamos agora que tais homens tenham a possibilidade de se comunicar com os seres do mundo invisível, por meio de um intérprete, isto é, por um médium; quais serão os que lhes responderão ao chamado? Evidentemente, os que os estão rodeando de muito perto, à espreita de uma ocasião para se comunicarem. Se, numa assembléia fútil, chamarem um Espírito superior, este poderá vir e até proferir algumas palavras razoáveis, como um bom pastor que acode ao chamamento de suas ovelhas desgarradas. Porém, desde que não se veja compreendido, nem ouvido, retira-se, como em seu lugar o faria qualquer de nós, ficando os outros com o campo livre.

233. Nem sempre basta que uma assembléia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro. Ora, o coração, sobretudo, é que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; os que, porém, estão em más condições, esses se comunicam com os que lhes são semelhantes, os quais não deixam de nos enganar e com frequência acariciam nossos preconceitos.

Por aí se vê a influência enorme que o meio exerce sobre a natureza das manifestações inteligentes. Essa influência, entretanto, não se exerce como o pretenderam algumas pessoas, quando ainda se não conhecia o mundo dos Espíritos, qual se conhece hoje, e antes que experiências mais concludentes houvessem esclarecido as dúvidas. Quando as comunicações concordam com a opinião dos assistentes, não é que essa opinião se reflita no Espírito do médium, como num espelho; é que com os assistentes estão Espíritos que lhes são simpáticos, para o bem, tanto quanto para o mal, e que abundam em vossos sentidos. Prova-o o fato de que, se tiverdes a força de atrair outros Espíritos, que não os que vos cercam, o mesmo médium usará de linguagem absolutamente diversa e dirá coisas muito distanciadas das vossas idéias e das vossas convicções.

Em resumo: as condições do meio serão tanto melhores, quanto mais homogeneidade houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instrução, sem pensamento oculto.

Estudos sobre os possessos de Morzine

(Revista Espírita 1862 » Dezembro » Estudos sobre os possessos de Morzine)

O perispírito, por sua natureza fluídica, é essencialmente móvel, elástico, se assim se pode dizer. Como agente direto do Espírito, ele é posto em ação e projeta raios, pela vontade do Espírito. Por esses raios ele serve à transmissão do pensamento, porque, de certa forma, está animado pelo pensamento do Espírito. Sendo o perispírito o laço que une o Espírito ao corpo, é por seu intermédio que o Espírito transmite aos órgãos, não a vida vegetativa, mas os movimentos que exprimem a sua vontade. É também por seu intermédio que as sensações do corpo são transmitidas ao Espírito. Destruído o corpo sólido pela morte, o Espírito não age mais e não percebe mais senão por seu corpo fluídico, ou perispírito. Por isso age mais facilmente e percebe melhor, considerando-se que o corpo é um entrave. Tudo isso é resultado da observação.

Suponhamos agora duas pessoas próximas uma da outra, cada qual envolvida por sua atmosfera perispiritual, ─ permitam-nos o neologismo. Esses dois fluidos põem-se em contato e se penetram um no outro. Se eles forem de natureza antipática, repelem-se, e os dois indivíduos sentirão uma espécie de mal-estar ao se aproximarem um do outro, sem se darem conta disso. Se, ao contrário, forem movidos por um sentimento bom e benevolente, carregarão consigo um pensamento benevolente que atrai. É por isso que duas pessoas se compreendem e se adivinham sem se falarem. Um certo não sei quê por vezes diz que a pessoa que temos diante de nós deve estar animada por tal ou qual sentimento. Ora, esse não sei quê é a expansão do fluido perispiritual da pessoa em contato com o nosso, espécie de fio elétrico condutor do pensamento. A partir daí compreende-se que os Espíritos, cujo envoltório fluídico é muito mais livre do que no estado de encarnação, não necessitam de sons articulados para se entenderem.

O contato entre os fluidos perispirituais dos indivíduos é o que permite que duas pessoas se compreendam e se adivinhem sem se falarem, pois são uma espécie de fio elétrico condutor do pensamento.

O fluido perispiritual do encarnado é, pois, acionado pelo Espírito. Se, por sua vontade, o Espírito, por assim dizer, dardeja raios sobre outro indivíduo, os raios o penetram. Daí a ação magnética mais ou menos poderosa, conforme a vontade; mais ou menos benfazeja, conforme sejam esses raios de natureza melhor ou pior, mais ou menos vivificante, porque eles podem, por sua ação, penetrar os órgãos e, em certos casos, restabelecer o estado normal. Sabe-se qual é a influência das qualidades morais do magnetizador.

Aquilo que pode fazer um Espírito encarnado, dardejando seu próprio fluido sobre uma pessoa, pode igualmente fazê-lo um desencarnado, porque ele tem o mesmo fluido. Assim, ele pode magnetizar e, de acordo com sua natureza boa ou má, sua ação será benéfica ou malfazeja.

Assim, facilmente nos damos conta da natureza das impressões que recebemos, conforme o meio onde nos encontramos. Se uma reunião for composta de pessoas animadas por maus sentimentos, elas enchem o ar ambiente com fluido impregnado de seus pensamentos. Daí, para as almas boas, um mal-estar moral análogo ao mal-estar físico causado pelas exalações mefíticas: a alma fica asfixiada. Se, ao contrário, as pessoas tiverem intenções puras, encontramo-nos em sua atmosfera como se num ar vivificante e salubre. Naturalmente, o efeito será o mesmo num ambiente cheio de Espíritos, conforme sejam bons ou maus.

Isso bem compreendido, chegamos sem dificuldade à ação material dos Espíritos errantes sobre os Espíritos encarnados, e daí, à explicação da mediunidade.

Se um Espírito quer agir sobre uma pessoa, dela se aproxima e envolve-a, por assim dizer, com o seu perispírito, como se fosse um manto. Os fluidos se penetram; os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e então o Espírito pode servir-se daquele corpo como se fora o seu próprio; fazê-lo agir à sua vontade, falar, escrever, desenhar, etc. Esses são os médiuns. Se o Espírito for bom, sua ação será suave e benéfica, e ele só provocará boas coisas; se for mau, provocará maldades; se for perverso e maldoso, ele o constrange como numa armadilha; paralisa até mesmo a vontade e a razão, que abafa sob seus fluidos, assim como se apaga o fogo sob um lençol d’água; incita-o a pensar, falar e agir por ele, conduzindo-o, contra sua vontade, a atos extravagantes ou ridículos. Numa palavra, ele magnetiza o indivíduo e o leva a uma espécie de catalepsia moral, transformando-o em instrumento cego de sua vontade. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em diversos graus de intensidade.

É ao paroxismo da subjugação que geralmente se dá o nome de possessão. Deve notar-se que, nesse estado, muitas vezes o indivíduo tem consciência do ridículo daquilo que faz, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais vigoroso que ele o constrangesse, contra sua vontade, a mover os braços, as pernas, a língua.