Pressentimentos

O pressentimento é uma vaga intuição de acontecimentos futuros. Certas pessoas têm essa faculdade mais ou menos desenvolvida. Pode-se tratar de uma espécie de dupla-vista que lhes permite ver as consequências do presente e o encadeamento natural dos acontecimentos.

Mas muitas vezes também é o resultado das comunicações ocultas, e é sobretudo nesse caso que se podem chamar de médiuns de pressentimentos as pessoas assim dotadas, que constituem uma variedade dos médiuns.

(O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. XV, item 184)

 

Pressentimentos

(O Livro dos Espíritos » Livro Segundo – Mundo Espírita ou dos Espíritos » Cap. 9 - Intervenção dos espíritos no mundo corpóreo » VII – Pressentimentos (Perguntas 522 a 524)

522. O pressentimento é sempre uma advertência do Espírito protetor?

— O pressentimento é o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos deseja o bem. É também a intuição da escolha anterior: é a voz do instinto. O Espírito, antes de se encarnar, tem conhecimento das fases principais da sua existência, ou seja, do gênero de provas a que irá ligar-se. Quando estas têm um caráter marcante, ele conserva uma espécie de impressão em seu foro íntimo, e essa impressão, que é a voz do instinto, desperta quando chega o momento, tornando-se pressentimento.

523. Os pressentimentos e a voz do instinto têm sempre qualquer coisa de vago; na incerteza, o que devemos fazer?

— Quando estás em dúvida, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, nosso soberano Senhor, para que te envie um de seus mensageiros, um de nós.

524. As advertências de nossos Espíritos protetores têm por único objeto a conduta moral, ou também a conduta que devemos ter em relação às coisas da vida privada?

— Tudo; eles procuram fazer-vos viver da melhor maneira possível; mas frequentemente fechais os ouvidos às boas advertências e vos tornais infelizes por vossa culpa.

Comentário de Kardec: Os Espíritos protetores nos ajudam com os seus conselhos, através da voz da consciência, que fazem falar em nosso íntimo; mas como nem sempre lhes damos a necessária importância, oferecem-nos outros mais diretos, servindo-se das pessoas que nos cercam. Que cada um examine as diversas circunstâncias, felizes ou infelizes, de sua vida, e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos que nem sempre aproveitou, e que lhe teriam poupado muitos dissabores se os houvesse escutado.1



405. Frequentemente se veem em sonhos coisas que parecem pressentimentos e que não se cumprem; de onde vêm elas?

— Podem cumprir-se para o Espírito, se não se cumprem para o corpo. Quer dizer que o Espírito vê aquilo que deseja, porque vai procurá-lo. Não se deve esquecer que, durante o sono, a alma está sempre mais ou menos sob a influência da matéria, e por conseguinte não se afasta jamais completamente das ideias. Disso resulta que as preocupações da vigília podem dar, àquilo que se vê, a aparência do que se deseja ou do que se teme. A isso é que realmente se pode chamar um efeito da imaginação. Quando se está fortemente preocupado com uma ideia, liga-se a ela tudo o que se vê.

857. Há homens que enfrentam os perigos dos combates com uma certa convicção de que a sua hora não chegou; há algum fundamento nessa confiança?

— Com muita frequência o homem tem o pressentimento do seu fim, como o pode ter o de que ainda não morrerá. Esse pressentimento lhe é dado pelos seus Espíritos protetores, que desejam adverti-lo para que esteja pronto a partir ou reerguem a sua coragem nos momentos em que se faz mais necessário. Também lhe pode vir da intuição da existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir.

858. Os que pressentem a morte geralmente a temem menos do que os outros? Por quê?

— É o homem que teme a morte, não o Espírito. Aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: compreende a sua libertação e a espera.2

Preces pessoais: VI – Para pedir um conselho

(O Evangelho Segundo o Espiritismo » Cap. 28 - Coletânea de preces espíritas » Preces pessoais: VI – Para pedir um conselho)

24 – Prefácio – Quando ficamos indecisos quanto a alguma coisa que temos por fazer, devemos propor-nos, antes de tudo, as seguintes questões:

1º) O que pretendo fazer pode causar algum prejuízo a outra pessoa?

2º) Pode ser útil a alguém?

3º) Se alguém fizesse o mesmo para mim, eu ficaria satisfeito?

Se o que temos de fazer só interessa a nós mesmos, é conveniente pesar as vantagens e desvantagens pessoais que nos pode advir. Se interessar a outros, e se fazendo bem a um pode resultar em mal para outro, é igualmente de conveniência pesar as vantagens e desvantagens. Afinal, mesmo para as melhores coisas, é necessário considerar a oportunidade e as circunstâncias, porquanto uma coisa boa por si mesma pode dar maus resultados em mãos inábeis, ou se não for conduzida com prudência e circunspeção. Em todo caso, pode-se sempre pedir a assistência dos Espíritos protetores, lembrando-nos desta máxima de sabedoria: Na dúvida, abstém-te!

25 – Prece – Em nome de Deus Todo-Poderoso, vós, Bons Espíritos que me protegeis, inspirai-me a melhor decisão a tomar, na incerteza em que me encontro. Dirigi o meu pensamento para o bem, e desviai a influência dos que tentam enganar-me.3

Pressentimentos e prognósticos

(Revista Espírita - 1867 » Novembro » Pressentimentos e prognóticos)

[...] Nestes fatos há que considerar duas coisas bem distintas: os pressentimentos e os fenômenos considerados como prognósticos de acontecimentos futuros.

Não poderíamos negar os pressentimentos, dos quais há poucas pessoas que não tenham tido exemplos. É um desses fenômenos cuja explicação tão somente a matéria é impotente para dar, porque se a matéria não pensa, ela também não pode pressentir. É assim que o materialismo a cada momento se choca contra as coisas mais vulgares que vêm desmenti-lo.

Para ser advertido de maneira oculta sobre aquilo que acontece à distância e de que não podemos ter conhecimento senão num futuro mais ou menos próximo pelos meios ordinários, é preciso que algo se desprenda de nós, veja e ouça o que não podemos perceber pelos olhos e pelos ouvidos, para transmitir a intuição ao nosso cérebro. Esse algo deve ser inteligente, porque compreende e muitas vezes de um fato atual prevê consequências futuras. É assim que por vezes temos o pressentimento do futuro. Esse algo não é outra coisa senão nós mesmos, nosso ser espiritual, que não está confinado no corpo, como um pássaro numa gaiola, mas que, semelhante a um balão cativo, afasta-se momentaneamente da Terra, sem deixar de estar a ela ligado.

É sobretudo nos momentos em que o corpo repousa, durante o sono, que o Espírito, aproveitando o descanso que lhe deixa o cuidado de seu envoltório, em parte recobra a liberdade e vai colher no espaço, entre outros Espíritos, encarnados como ele, ou desencarnados, e naquilo que ele vê, ideias cuja intuição ele traz ao despertar.

Essa emancipação da alma por vezes se dá no estado de vigília, nos momentos de absorção, de meditação e de devaneio, em que a alma parece não mais preocupada com a Terra. Ele ocorre, sobretudo de maneira mais efetiva e mais ostensiva, nas pessoas dotadas do que se chama dupla vista ou visão espiritual.

Ao lado das intuições pessoais do Espírito, há que colocar as que lhe são sugeridas por outros Espíritos, quer em vigília, quer no sono, pela transmissão de pensamentos de alma a alma. É assim que muitas vezes se é advertido de um perigo, solicitado a tomar tal ou qual direção, sem que por isto o Espírito deixe de ter o seu livre-arbítrio. São conselhos e não ordens, porque ele sempre fica livre de agir à sua vontade.

Os pressentimentos têm, pois, a sua razão de ser, e encontram a sua explicação natural na vida espiritual, que não cessamos um instante de viver, porque é a vida normal.

Já não é o mesmo com os fenômenos físicos considerados como prognósticos de acontecimentos felizes ou infelizes. Em geral esses fenômenos não têm nenhuma ligação com as coisas que parecem pressagiar. Eles podem ser precursores de efeitos físicos que são a sua consequência, como um ponto negro no horizonte pode ao marinheiro pressagiar uma tempestade, ou certas nuvens anunciar o granizo, mas a significação desses fenômenos para as coisas de ordem moral deve ser posta entre as crenças supersticiosas, que nunca seriam combatidas com demasiada energia.

Os pressentimentos têm, pois, a sua razão de ser, e encontram a sua explicação natural na vida espiritual, que não cessamos um instante de viver, porque é a vida normal.

Essa crença, que absolutamente não repousa sobre nada de racional, faz com que, quando chega um acontecimento, nos lembremos de algum fenômeno que o precedeu, e ao qual o espírito chocado o liga, sem se inquietar com a impossibilidade de relações que só existem na imaginação. Não pensamos que os mesmos fenômenos se repetem diariamente, sem que daí resulte nada de aborrecido, e que os mesmos acontecimentos chegam a cada instante, sem serem precedidos por nenhum pretenso sinal precursor. Se se trata de acontecimentos que dizem respeito a interesses gerais, narradores crédulos, ou, o mais das vezes, oficiosos, para lhes exaltar a importância aos olhos da posteridade, amplificam os prognósticos que eles se esforçam por tornar mais sinistros e mais terríveis, adicionando-lhes supostas perturbações da Natureza, das quais os tremores de Terra e os eclipses são os acessórios obrigatórios, como fez o bispo de Rodez a propósito da morte de Henrique IV. Esses relatos fantásticos, que muitas vezes tinham sua fonte nos interesses dos partidos, foram aceitos sem exame pela credulidade popular que viu, ou à qual queriam fazer ver milagres nesses estranhos fenômenos.

Quanto aos acontecimentos vulgares, o mais das vezes o homem é a sua primeira causa. Não querendo reconhecer suas próprias fraquezas, busca uma desculpa pondo à conta da Natureza as vicissitudes que são quase sempre o resultado de sua imprevidência e de sua imperícia. É em suas paixões, em seus defeitos pessoais que se deve buscar os verdadeiros prognósticos de suas misérias, e não na Natureza, que não se desvia da rota que Deus lhe traçou por toda a eternidade.

Explicando por uma lei natural a verdadeira causa dos pressentimentos, o Espiritismo demonstra, por isso mesmo, o que há de absurdo na crença nos prognósticos. Longe de dar crédito à superstição, ele lhe tira seu último refúgio: o sobrenatural.