“Para mim, um homem é um homem e nada mais; meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, e não pela posição que ocupa. Ainda que esteja altamente colocado, se agir mal, se for egoísta e presunçoso de sua dignidade, é a meus olhos inferior a um simples operário que age bem, e eu aperto mais cordialmente a mão de um pequeno que deixa falar o coração, do que a de um grande, cujo coração nada diz; a primeira me aquece, a segunda me enregela.
Personagens da mais alta condição social me honram com sua visita, sem que, por causa delas, jamais um proletário tenha ficado na antecâmara. Muitas vezes, em meu salão, o príncipe fica lado a lado com o artesão; se se sentir humilhado, dir-lhe-ei que não é digno de ser espírita. Mas, sinto-me feliz em dizer, muitas vezes os tenho visto apertarem-se as mãos fraternalmente, e digo de mim para mim: “Espiritismo, eis um dos teus milagres; é o prelúdio de muitos outros prodígios!”
Não dependeria senão de mim abrir as portas da alta sociedade; contudo, jamais fui nelas bater. Isto me tomaria um tempo que creio poder empregar mais utilmente. Coloco em primeira linha consolar os que sofrem, levantar a coragem dos abatidos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no abismo do crime. Isto não vale mais do que os lambris dourados? Tenho milhares de cartas que para mim são mais valiosas do que todas as honras da Terra, e que encaro como verdadeiros títulos de nobreza. Assim, não vos admireis se deixo partir aqueles que não me procuram.”
-Allan Kardec. Viagem Espírita de 1862 – Discursos Pronunciados nas Reuniões Gerais dos Espíritas de
Lyon e Bordeaux.