“Sabemos que os Espíritos estão longe de possuir a soberana ciência e que se podem enganar; que, muitas vezes, emitem as próprias ideias, justas ou falsas; que os Espíritos superiores querem que o nosso julgamento se aperfeiçoe em discernir o verdadeiro do falso, o que é racional daquilo que é ilógico. Eis por que jamais aceitamos, seja o que for, de olhos fechados. Logo, não poderia haver ensino proveitoso sem discussão. Mas, como discutir comunicações com médiuns que não admitem a menor controvérsia, que se ofendem com uma observação crítica, com um simples comentário, e ficam contrariados quando não são aplaudidos pelas coisas que recebem, mesmo aquelas eivadas das mais grosseiras heresias científicas?
Essa pretensão não teria cabimento se aquilo que escrevem fosse produto de sua inteligência; é ridícula, desde que não passam de instrumentos passivos, pois se assemelham a um ator que se sentiria melindrado caso achássemos maus os versos que deve recitar. Não sendo seu próprio Espírito passível de magoar-se com uma crítica que não o atinge, é, por conseguinte, o Espírito comunicante que se sente ofendido e transmite ao médium a sua impressão. Por isto mesmo o Espírito trai a sua influência, porque quer impor suas ideias pela fé cega, e não pelo raciocínio; ou, o que vem a dar no mesmo, porque só ele quer raciocinar.
Disso resulta que o médium, que se acha em tais disposições, está sob o império de um Espírito que merece pouca confiança, desde que exibe mais orgulho que saber. Sabemos, também, que os Espíritos dessa categoria geralmente afastam os médiuns dos centros onde não são aceitos sem reservas.”
(Allan Kardec. Revista Espírita, junho de 1862 – Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas: Discurso do Sr. Allan Kardec).