Prontuário: Olhar retrospectivo sobre o movimento espírita

Olhar retrospectivo sobre o movimento espírita – Revista Espírita, janeiro de 1867, p.8

Os ataques a céu aberto tornam-se mais raros, porque reconheceram a sua inutilidade; mas não perdem a esperança de triunfar com o auxílio de manobras tenebrosas. Longe de adormecer numa enganosa segurança, mais que nunca é preciso desconfiar dos falsos irmãos que se insinuam em todas as reuniões para espiar e, a seguir, deturpar o que aí se diz e se faz; que semeiam sub-repticiamente elementos de desunião; que, sob a aparência de um zelo artificial e por vezes interessado, procuram empurrar o Espiritismo para fora das vias da prudência, da moderação e da legalidade; que provocam em seu nome atos repreensíveis aos olhos da lei.

Não tendo conseguido torná-lo ridículo, porque, por sua essência, é uma coisa séria, seus esforços tendem a comprometê-lo, para o tornar suspeito à autoridade e provocar contra ele e seus aderentes medidas rigorosas. Desconfiemos, pois, dos beijos de Judas e dos que nos querem abraçar para nos sufocar.

É preciso imaginar que estamos em guerra e que os inimigos estão à nossa porta, prontos para aproveitar a ocasião favorável e que arrebanharão inteligências no próprio lugar.

Que fazer nesta ocorrência? Uma coisa muito simples: fechar-se nos estritos limites dos preceitos da doutrina; esforçar-se em mostrar o que ela é por seu próprio exemplo e declinar toda solidariedade com o que pudesse ser feito em seu nome e que fosse capaz de desacreditá-la, porque não seria este o caso de adeptos sérios e convictos. Não basta dizer-se espírita; aquele que o é de coração o prova por seus atos.

Não pregando a doutrina senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência para com todos; repudiando toda violência feita à consciência de outrem, todo charlatanismo, todo pensamento interessado no que concerne às relações com os Espíritos e todas as coisas contrárias à moral evangélica, aquele que não se afasta da linha traçada não pode incorrer em censuras fundadas, nem em perseguições legais; mais ainda: quem quer que tome a doutrina como regra de conduta, não pode senão granjear estima e consideração das pessoas imparciais.

Diante do bem a própria incredulidade zombeteira se inclina e a calúnia não pode sujar o que está sem mancha. É nessas condições que o Espiritismo atravessará as tempestades que serão amontoadas em sua estrada e que sairá triunfante de todas as lutas.

O Espiritismo também não pode ser responsabilizado pelas faltas daqueles a quem agrada se dizerem espíritas, como a religião não o é pelos atos repreensíveis dos que só têm a aparência de piedade. Antes, pois, de fazer cair a censura de tais atos sobre um doutrina qualquer, seria preciso saber se ela contém alguma máxima, algum ensinamento que os possa autorizar ou até os desculpar.

Se, ao contrário, ela os condena formalmente, é evidente que a falta é inteiramente pessoal e não pode ser imputada à doutrina. Mas é uma distinção que os adversários do Espiritismo não se dão ao trabalho de fazer; ao contrário, eles se sentem muito felizes por encontrar uma ocasião de o desacreditar com ou sem razão, não se pejando de lhe atribuir o que não lhe pertence, envenenando as coisas mais insignificantes, em vez de lhes buscar as causas atenuantes.

Letra E

Compartilhe