Prontuário: Espíritas falsos

Espíritas falsos – Revista Espírita, maio de 1861 – Discurso do Sr. Allan Kardec
Por ocasião da renovação do ano social, pronunciado na sessão de 5 de abril de 1861.

[…] Não forçamos ninguém a vir a nós. Acolhemos com prazer e solicitude as pessoas sinceras e de boa vontade, seriamente desejosas de esclarecimento, e destas encontramos muitas para não perdermos tempo correndo atrás dos que nos voltam as costas por motivos fúteis, de amor-próprio ou de inveja. Estes não podem ser considerados como verdadeiros espíritas, apesar das aparências.

É possível que creiam nos fatos, mas, seguramente, não acreditam nas suas consequências morais, pois, ao contrário, mostrariam mais abnegação, indulgência, moderação, e menos presunção de infalibilidade. Procurá-los seria mesmo prestar-lhes um mau serviço, porque seria fazer crer em sua importância e que não podemos passar sem eles.

Quanto aos que nos denigrem, também não nos devemos preocupar; homens que valem cem vezes mais que nós foram denegridos e ridicularizados; não poderíamos ter privilégio quanto a esse ponto. Cabe-nos provar por nossos atos que suas diatribes não encontram ressonância, e as armas de que se servem voltar-se-ão contra eles.

Depois de ter, no início, agradecido aos Espíritos que nos assistem, não devemos esquecer os seus intérpretes, alguns dos quais nos dão seu concurso com um zelo, uma complacência jamais desmentidos. Em troca, não lhes podemos oferecer senão um estéril testemunho de nossa satisfação. Mas o mundo dos Espíritos os espera, e lá todos os devotamentos são levados em conta na razão do desinteresse, da humildade e da abnegação.

Em resumo, senhores, durante o ano que passou nossos trabalhos marcharam com perfeita regularidade e nada os interrompeu. Uma multidão de fatos do mais alto interesse foi relatado, explicado e comentado; questões muito importantes foram resolvidas; todos os exemplos que passaram sob nossos olhos pelas evocações, todas as investigações a que nos entregamos vieram confirmar os princípios da ciência e fortalecer as nossas crenças; numerosas comunicações, de incontestável superioridade, foram obtidas por diversos médiuns; a província e o estrangeiro nos remeteram algumas deveras notáveis, provando não só quanto o Espiritismo se espalha, mas, também, sob que ponto de vista grave e sério ele agora é encarado por toda parte.

Sem dúvida este é um resultado pelo qual devemos nos sentir felizes, mas há outro não menos satisfatório e que é, aliás, uma consequência do que havia sido predito desde a origem: é a unidade que se estabelece na teoria da doutrina, à medida que é estudada e mais bem compreendida.

Em todas as comunicações que nos chegam de fora encontramos a confirmação dos princípios que nos são ensinados pelos Espíritos, e, como as pessoas que as recebem nos são, na maioria, desconhecidas, não se pode dizer que sofram a nossa influência.

Letra E

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