Abnegação: O Céu e o Inferno – 2ª parte, cap. 8 (Adélaide-Marguerite Gosse)

Abnegação: O Céu e o Inferno – 2ª parte, cap. 8:

ADÉLAIDE-MARGUERITE GOSSE

Era uma humilde e pobre criada, de Harfleur, Normandia. Aos 11 anos entrou para o serviço de uns horticultores ricos, da sua terra. Um ano depois, uma inundação do Sena arrebatava-lhes, afogando-os, todos os animais! Ainda por outras desgraças supervenientes, os patrões da rapariga caíram na miséria!

Adélaide reuniu-se-lhes no infortúnio, abafou a voz do egoísmo e, só ouvindo o generoso coração, obrigou-os a aceitarem quinhentos francos de suas economias, continuando a servi-los independentemente de salário. Depois da morte dos patrões, passou a dedicar-se a uma filha que deixaram, viúva e sem recursos.

Mourejava pelos campos, recolhia o produto, e, casando-se, reuniu os seus esforços aos do marido, para manterem juntos a pobre mulher, a quem continuou a chamar sua patroa! Cerca de meio século durou esta abnegação sublime.

A Sociedade de emulação, de Rouen, não deixou no esquecimento essa mulher digna de tanto respeito e admiração, porquanto lhe decretou uma medalha de honra e uma recompensa em dinheiro; a este testemunho associaram-se as lojas maçônicas do Havre, oferecendo-lhe uma pequena soma destinada ao seu bem-estar.

Finalmente, a administração local também se interessou por ela, delicadamente, de modo a não lhe ferir a suscetibilidade. Este anjo de bondade foi arrebatado da Terra, instantânea e suavemente, em conseqüência de um ataque de paralisia.

Singelas, porém decentes, foram as últimas homenagens prestadas à sua memória. O secretário da municipalidade foi à frente do cortejo fúnebre.

(Sociedade de Paris — 27 de dezembro de 1861)

Evocação. — Ao Deus Onipotente rogamos nos permita a comunicação do Espírito de Marguerite Gosse.

— P. Felizes nos consideramos em poder testemunhar-vos a nossa admiração pela vossa conduta na Terra, e esperamos que tanta abnegação tenha recebido a sua recompensa.

— R. Sim, Deus foi bom e misericordioso para com a sua serva. Tudo quanto fiz, e louvável vos parece, era natural.

— P. Podereis dizer-nos, para edificação nossa, qual a causa da humildade de vossa condição terrena?

— R. Em duas encarnações sucessivas ocupei posição assaz elevada, sendo-me fácil a prática do bem, que fazia sem sacrifício, sendo, como era, rica. Pareceu-me, porém, que me adiantava lentamente, e por isso pedi para voltar em condições mesquinhas, nas quais houvesse mesmo de lutar com as privações.

Para isso me preparei durante longo tempo, e Deus manteve-me a coragem, de modo a poder atingir o fim a que me propusera.

— P. Já tornastes a ver os antigos patrões? Dizei-nos qual a vossa posição perante eles, e se ainda vos considerais deles subalterna?

— R. Vi-os, pois, quando cheguei a este mundo, já aqui estavam. Humildemente vos confesso que me consideram como lhes sendo superior.

— P. Tínheis qualquer motivo de afeição para com eles, de preferência a outros quaisquer?

— R. Obrigatório, nenhum, visto que em qualquer parte conseguiria o meu objetivo. Escolhi-os, no entanto, para retribuir uma dívida de reconhecimento. É que outrora haviam sido benévolos para comigo, prestando-me serviços.

— P. Que futuro julgais que vos aguarde?

— R. Espero a reencarnação em um mundo onde se não conheçam dores. Talvez me julgueis muito presunçosa, porém eu vos falo com a vivacidade própria do meu caráter. Além disso, submeto-me à vontade de Deus.

— P. Gratos à vossa presença, não duvidamos que Deus vos cumule de benefícios.

— R. Obrigada. Assim Deus vos abençoe a todos, para que possais, quando desencarnados, gozar das puras alegrias que a mim me foram concedidas.

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